A descrição de Rita Lee, feita por ela mesma
“O Brasil perdeu a rainha do rock.” Era o que diziam as manchetes de jornais. Rita Lee morreu aos 77 anos. E em um texto descrito como profecia, a própria cantora sugere uma frase na lápide. “Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa.”
Ironia era um dos pontos fortes da cantora, principalmente para criticar o machismo e os “bons modos” impostos pela sociedade. Eu achava que não ouvia muito suas canções, mas como a morte de alguém famoso mexe com a gente, veio o gatilho de procurar as mais tocadas. E percebi que sim, eu escutava Rita Lee. Suas letras e melodias já mexeram um dia com meu imaginário. Entre elas Pagu, que começa com: “Mexo, remexo na inquisição (…) só quem já morreu na fogueira (…) sabe o que é ser carvão (…).”
Isso me lembra o que é ser mulher e meu lugar de fala por aqui. Quem já ouviu as seguintes frases: você precisa andar mais bem vestida, está parecendo um homem. Você engordou, não tá com corpo perfeito, precisa emagrecer. Mulher não pode ser escandalosa, tem que ser discreta. Quando vai se casar? Quando terá filhos? Trabalho de casa, não é trabalho, é coisa de mulher. Desde que nascemos somos colocadas na inquisição, como se nossa vida fosse já fosse um destino traçado e não podemos escolher qual caminho seguir.
Rita Lee nunca se declarou feminista. Mas suas ações e palavras faziam muitas pessoas acreditarem que sim. Ela quebrava padrões femininos impostos, rebatia críticas e usava a ironia para combater preconceitos. Aqui vai outro trecho da canção Pagu. “Porque nem toda feiticeira é corcunda (…) nem toda brasileira é bunda (…) meu peito não é de silicone (…) sou mais macho que muito homem (…). Quantas reflexões nesses versos.
Aprendendo a refletir
Em apenas uma canção podemos entender tantas críticas e questionamentos. Antes, minha cabeça de menina não entendia a força dos versos, era apenas uma música gostosa de ouvir! Mas hoje, já mulher, entendo que eles fazem muito sentido! Precisamos compreender o que nos leva à inquisição e lutar contra os moldes que querem nos colocar! Não será fácil, mas vamos seguir em frente. Foi o que senti, mas será o mesmo que outras mulheres sentem?
Rita quebrou barreiras, foi considerada uma das mulheres mais influentes do Brasil. Na música e na reivindicação da independência feminina. Será que nós conseguimos dedicar um pouco de nosso tempo para fazer isso também? Sigo ouvindo suas músicas e aprendi a ir além de uma batida gostosa, de um ritmo envolvente. Os versos de uma canção podem vir carregados de dor, indignação e resistência. Cabe a nós, mulheres e homens, usar a nossa arte, o nosso dom para amplificar o grito de quem pede socorro. A batalha é longa e teremos um bom caminho a percorrer. Até mais!
