Sempre tive medo de usar panela de pressão. Mas depois que você começa a comandar uma casa, tem coisas que não dá para evitar. Nas primeiras vezes eu ficava ao lado, quando ligava o fogo e observava até dar o tempo do cozimento. O vapor saindo pelos buraquinhos gerava pânico, será que vai dar tudo certo? Sem contar o tempo de espera depois de desligar. Insegurança e ansiedade dominavam. É necessário que toda a pressão saia, não é de uma hora para a outra que a gente consegue abrir a tampa e ver se está tudo perfeito.
Assim é com a nossa vida e nossa mente. É preciso tempo. Tempo para absorver as coisas, tempo para assimilar, e tempo para chegar a uma conclusão e assim, esvaziar a mente. o problema é que nesse mundo tão corrido, não ligamos para esses detalhes, o que complica bastante. É preocupação com o trabalho, com a casa, com o relacionamento e com o corpo.
Uma das primeiras coisas que faço ao levantar é me olhar no espelho. Há alguns anos, as manchas de Melasma (aquelas grandes) estão em meu rosto, agora, mais suaves. Diferente de uma época turbulenta que vivi. Elas já não me causam tanto espanto. Mas os fios brancos que começaram a surgir…esses sim esquentam a minha cabeça. Antes era um ou outro, agora são como um time de futebol. Não é a imagem que me incomoda. É o que ela representa. Eu estou envelhecendo e, quando paro para pensar, me apavora. É o que faz minha mente ferver como se fosse uma panela de pressão. A finitude de tudo, o fato de eu ter mudado de rota e não seguir mais um caminho que estava trilhado para mim. É como se eu estivesse parada em uma floresta sem saber qual trilha seguir.
E quando a cabeça ferve em meio a tantos pensamentos é preciso aquela paciência, de quando a panela de pressão começa a apitar e sair o ar. Não dá para deixar a ansiedade dominar. Uma hora vai estar pronto e a gente vai desligar o que estava agitando tudo por dentro. É preciso esperar os pensamentos fluírem para retirar aquela tampa que estava fazendo pressão. Somente assim vai dar para sentir o aroma fresquinho do novo. Do que vai alimentar a nossa alma.