MULHERES INSPIRADORAS: O PODER DA LEITURA

Quando um gesto de incentivo muda seu olhar

Há poucos dias terminei de ler um livro de Cora Coralina e não sabia que ele poderia trazer-me memórias tão profundas e sonhos já conhecidos. Sabe quando você pega um objeto e ele lhe leva para longe? Algo que faz você parar para refletir e perceber que está onde deveria? É exatamente por aí que vou começar. Aquela frase de que sonhos não envelhecem faz todo sentido para mim. São poucas as memórias que tenho de minha infância, mas algumas marcantes estão ligadas aos livros. Meu primeiro contato foi com os poemas de Cecília Meireles, depois com a história de Cora Coralina.

O ano era 1995, eu estava na quarta série do primário. Gostava de ler e era bastante competitiva com relação aos estudos. Foi quando eu me candidatei para presidente do Clube de Leitura, com 10 anos de idade e venci. Precisava escolher um patrono ou patrona para o clube. Com a ajuda de minha mãe, que era educadora, optei por Cora Coralina. Fizemos uma pesquisa minuciosa sobre ela e montamos um monólogo, no qual eu era a autora a contar sua própria história para que os outros estudantes pudessem entender. Ainda tenho uma foto desta apresentação. Eu toda de preto, sentada em uma cadeira com talco nos cabelos para dar vida à uma idosa.

PARA QUEM NÃO A CONHECE, UM PEQUENO RESUMO

Para quem não conhece Cora Coralina é o pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, uma poeta brasileira. Cora nasceu em 1889, estudou até a terceira série, mas era uma poeta nata. Seu primeiro livro foi publicado quando ela tinha 76 anos de idade. Eram poemas sobre um passado distante, da vida no campo, uma vida simples e em um período de grandes transformações. E é isso o que mais me encanta em sua escrita. Cora teve como grande fã Carlos Drumond de Andrade e entre outros milhares de leitores eu e minha mãe.

DIAS ATRÁS, O REENCONTRO

Depois de muitos anos do meu primeiro contato com as obras de Cora Coralina resolvi comprar seu primeiro livro. “O poema dos Becos de Goiás e estórias mais”. Em apenas três dias sentada em meu sofá devorei cada detalhe dos poemas. Eu me vi em muitos deles, como uma criança, que no passado se sentava na cozinha de casa a noite e escutava atenta a todas as histórias e “causos” de antigamente (como se fala no interior), que seus pais e tios contavam. Sou uma boa ouvinte, como Anna Lins era. Em outros poemas identifiquei a visão de mundo que minha mãe tinha e era tão parecida com ela. A sensibilidade com os mais oprimidos, com as pessoas simples do campo, com a maneira de enxergar a vida. Acho que foi por isso que ela me apresentou a história de Cora Coralina.

Mulheres que já se foram, mas que deixaram um legado imenso que me inspira até hoje. A forma simples de viver, de encontrar beleza no comum. Entre tantos poemas lidos e relidos de Cora Coralina, deixo o trecho de um, para que sirva como forma de inspiração.

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema… (…)

Trecho de Aninha e suas pedras de Cora Coralina.

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