Eu poderia descrever vários momentos da vida em que ficamos ansiosos, mas a verdade é quando a ansiedade chega é difícil perceber. Só vamos dar conta depois de um tempo, quando os sinais já deixaram marcas em nosso corpo, marcas físicas ou emocionais. É verdade. Gastrite, dor de cabeça, alergias, sobrepeso, falta de apetite, dor de barriga…são muitas.
Por isso, eu começo contanto a história de um passeio simples que fiz há quase dois anos. Eu morava há poucos meses em São Paulo, mas já sabia que dias de sol no outono são maravilhosos, por serem vistos com pouca frequência. Então, decidi aproveitar quando chegou. Coloquei uma roupa de ginástica e peguei, pela primeira vez, meu cartão de ônibus e metrô. Antes de sair de casa gosto sempre de me planejar, alguns dizem que isso é coisa do signo de virgem, mas acho que é minha, mesmo, porque gosto de me sentir segura. Será que sou ansiosa? Olhei no google maps como ir até o Museu do Ipiranga. É um lugar lindo, cheio de história, dá para fazer uma boa caminhada e tirar ótimas fotos.
Imprevistos acontecem
Eu já conhecia e como é perto da minha casa, achei que seria um bom passeio, justamente por saber como é, e o que encontraria lá. Escolhi a rota que tem o ponto de ônibus perto do metrô, mais fácil de chegar. E claro, levei o meu celular velho. Hoje em dia com tudo tão perigoso, resolvi não arriscar e peguei o aparelho reserva, porque tem menos aplicativos. Sai de casa confiante e quando vi o ônibus com a numeração certa, não tive dúvidas de que chegaria facilmente. Mentalizei quantos pontos passariam até eu descer. Aproveitei para apreciar a cidade tão movimentada em plena quarta-feira. Desci no ponto indicado e fiz a pequena caminhada. Para minha surpresa o local de entrada estava fechado, por causa da reforma do museu, por indicação de um segurança, fui por outro caminho para chegar até o parque.
Quando cheguei a portaria, bateu uma dúvida. Não era o lugar que eu esperava: uma rua imensa com monumentos, pessoas andando de bicicleta, aquela vista linda do museu. Era um jardim gigante, uma mata mais fechada, cheia de árvores e flores, que as pessoas usavam para caminhar e se exercitar. Pensei comigo: o segurança deve ter olhado para minha roupa e achado que faria ginástica. Não era o que eu queria, mas aproveitei para caminhar. Uma volta pelos trilhos principais durava aproximadamente 15 minutos e lá fui eu. Uma, duas, e quando percebi estava completamente perdida no parque, que fica ao lado do museu e só algum tempo depois descobri.
A mente às vezes nos engana
Para ninguém perceber meu desespero, sentei-me em um banco e comecei a observar as crianças brincando na grama, a imagem de nossa Senhora Aparecida em uma pequena praça improvisada em meio a árvores. Liguei o celular, coloquei no gps e voltei a caminhar. Mais 15 minutos e não achava a saída. Eu simplesmente peguei os trilhos laterais e cada vez que tentava me encontrar eu me perdia mais. Pensei: não é possível! Um lugar tão pequeno e não consigo achar a portaria por onde entrei? Uma crise de ansiedade bateu e eu nem percebi o que estava acontecendo. É um exemplo simples, mas você percebe quando a ansiedade chega?
Foi quando eu sentei novamente e resolvi apreciar a beleza daquele dia. O sol entrando pelas frestas entre as árvores, os pássaros passando ao redor. Parei por alguns minutos e relaxei. Ao olhar para o lado vi alguns idosos aproveitando a vitamina D e papeando. Mais à frente um casal, a mulher deveria estar enfrentando um tratamento de combate ao câncer. Reconheci pelo lenço na cabeça, pela fragilidade ao andar e no olhar sereno, de quem quer aproveitar a vida. Lembrei-me de minha querida mãe, que passou por isso e hoje está em todos os lugares comigo, dentro do coração. Eu os segui, sem perceber. Era o instinto mostrando uma saída. Foi quando vi a portaria por onde entrei, e logo a frente um carrinho de água de côco. Minha mãe amava, e naquele dia quente, tomei e refresquei a memória.
o caminho estava a minha frente
Depois foi fácil achar o ponto de ônibus. Percebi que não estava perdida. O caminho estava à minha frente e eu só não o encontrei porque estava preocupada demais, ansiosa para vê-lo. Lembrei-me que a vida é tão curta. O tempo passa rápido, mas não podemos deixar a pressa dominar, até mesmo quando você se perde em um lugar que achava ser conhecido. Quando a ansiedade chega, ela nos cega, encobre o óbvio. O segredo para achar a saída: só desacelerar, reconectar com sua rota e pronto. Em casa.
Você fez muito bem! Desafiou-se a enfrentar a ansiedade, tirou valiosas lições disso e traduziu em palavras nesse texto tão bom de ler.
Que bom que você gostou! A gente, às vezes, nem se dá conta, não é mesmo?!